domingo, 7 de maio de 2017

Testemunho do padre Ivanildo Quaresma sobre a Páscoa

Na íntegra, o testemunho recebido do padre Ivanildo Quaresma, xaveriano brasileiro de Abaetetuba/PA, ordenado em 2016 sobre sua experiência na ocasião da Páscoa na Espanha e Marrocos.


Páscoa Missionária: ninguém é estrangeiro na comunidade cristã!

Esta páscoa foi diferente de todas as outras que eu tinha vivido até então, porque vivenciei em Ceuta (Espanha) e Tetuan (Marrocos), com os imigrantes. Éramos mais ou menos 50 pessoas. Foi um presente de Deus. É Ele que nos pede “Sai da tua Terra” (Gn 12, 1). Como sempre, Deus me surpreendendo. E dessa vez, me permitiu descobri-lo em nossos irmãos africanos.

Viver o tríduo pascal junto aos imigrantes, e entre eles alguns muçulmanos, me possibilitou ver o rosto de Cristo neles, nos seus sofrimentos, nas suas cruzes. Também na alegria, na fé e esperança que eles têm em Deus. Tudo em clima de amor e fraternidade, espaço onde as diferentes crenças religiosas não são motivo de disputas ou rivalidades, mas, são sim um vínculo especial entre as pessoas.

Vivi a Semana Santa de maneira intensa, cheia de significados. Senti forte a presença misericordiosa e amorosa de Jesus junto a esses jovens imigrantes. Tal sentimento deve-se ao fato de passar esse evento importantíssimo com eles, conhecendo de perto e melhor a realidade da imigração, as dificuldades que passam para chegar à Europa, movidos pelo sonho de construir uma vida melhor. Isso tudo me tocou muito!

Tocou porque a maioria eram jovens que deixaram casa, família, amigos, e arriscaram atravessar o deserto para chegar à Espanha. Um deles contou que passou cinco dias no deserto, sem beber água. Outro disse que perdeu seu irmão enquanto estava atravessando, porque ele não aguentou a fome.

Todo esse relato me serviu de luz para compreender melhor a paixão de Cristo. O maravilhoso dessa experiência, foi ouvir da maioria, que apesar de todas as dificuldades enfrentadas, nunca se sentiram sozinhos. Tinham sempre a certeza da presença de Deus no meio deles. Como o povo de Israel guiado pelo Senhor no deserto, eles se sentiram guiados por Deus.

Foi um exemplo de vida para mim, para nós, que diante de pequenas dificuldades pensamos logo que Deus tenha nos abandonados. A história destes (de luta e esperança) contagiou meu coração, animou meu espírito missionário. Minha atitude frente a tudo que ouvi, foi agradecer a Deus pelo testemunho vivo dado por eles, que abriu minha mente e o meu coração para esta realidade da imigração, até então um pouco distante do meu cotidiano.

Aproveitei para estar com eles, conversar, rezar juntos. Foram momentos maravilhosos. Apesar da dificuldade com o francês e o árabe, consegui me comunicar um pouco com o espanhol, que também ainda estou aprendendo. Acentuo, porém, que a comunicação entre nós se deu pela língua universal que une a todos: o AMOR. Este é o idioma do coração que nos possibilita comunicar com o olhar, com o sorriso, com os gestos. Não pode haver barreiras quando a intenção é fazer o bem. Me senti em família no meio deles.


Concelebrar a páscoa da Ressurreição com os irmãos Franciscanos de Tetuam, em Marrocos, localizado a uns 45 minutos da cidade de Ceuta, Espanha, me permitiu ver a presença de uma Igreja pequena, humilde, alegre e aberta. Que anuncia o evangelho sem necessidades de palavras. Mesmo porque nesse lugar, não se pode evangelizar explicitamente, mas, por meio do testemunho de ajuda aos necessitados.

O Senhor por meio do nosso fundador, São Guido Maria Conforti, inspirou um carisma missionário com o lema “Fazer do mundo uma só família em cristo”. Nessa páscoa missionária vivi e constatei que esse sonho já é uma realidade. Percebi isso de maneira especial no domingo, quando concelebrei a missa de páscoa em Marrocos, um país de religião totalmente muçulmana. Para mim, o significado foi especial, missionário e universal.


Viver a ressurreição em terra islã me ajudou a compreender melhor que Cristo morreu e ressuscitou por todos, por toda a humanidade. Também pelos nossos irmãos muçulmanos e para todo aquele que ainda não o conhece. Voltei assim a redescobrir Deus que sempre sai ao nosso encontro, que nos antecede com o seu olhar misericordioso e amoroso. Ele me deu uma lição de amor, de solidariedade, de esperança e fraternidade. Uma chamada à sair da minha terra, do meu pequeno mundo, e ir compartilhar do seu amor com os outros, sobretudo, aqueles que ainda não ouviram falar Dele.

O contexto me ajudou a entender melhor a expressão bíblica do evangelista São João 12, 32 “E, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. E não foi diferente! Passar a páscoa em Marrocos teve esse significado. Todos fomos atraídos pelo amor de Jesus Cristo. Ele não nos deu um objeto ou uma palavra, nos deu tudo.

Sou muito grato a Deus por tudo que está acontecendo e me possibilitando ver e ouvir nesse início de missão na Espanha. Poder viver a páscoa junto aos nossos irmãos imigrantes e muçulmanos nesse começo de missão, é para mim um dom de Deus.

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